O
desenvolvimento econômico da sociedade moderna tem levado à contaminação das
águas superficiais, representada por rios, lagos e reservatórios; águas
subterrâneas e o ambiente costeiro. Este processo ocorrido principalmente a
partir da metade do século 20, em função do crescimento econômico do
pós-guerra. Neste processo mais evidente, observou-se um grande impacto sobre
as águas superficiais. Após algum tempo ocorreu a percepção pública que não era
possível continuar poluindo as águas superficiais, quando na década de 70
apareceram as primeiras restrições ambientais nos países desenvolvidos,
principalmente sobre as águas superficiais. As legislações ambientais passaram
a cobrar resultados de tratamento dos efluentes domésticos e industriais
(poluição pontual) lançada nos rios.
Da
mesma forma, o crescente aumento da população urbana tem levado ao somatório de
contaminantes, lançado no aqüífero, relacionados com o homem urbano, como:
fossas sépticas, óleos e graxas de postos de gasolina, depósitos de lixos urbanos,
lançamento de resíduos industriais de forma geral. Outra tendência paralela a
esta ocorreu na agricultura onde a expansão das fronteiras agrícolas, a
produção anual crescentes de novos produtos químicos utilizados na agricultura
criaram fontes crescentes e variadas de componentes que contaminam a água
superficial e subterrânea. Este novo grupo de contaminados, geralmente de
poluição difusa, produziu os seguintes problemas para sua avaliação e
mitigação:
Identificação das fontes poluidoras no tempo e no espaço:
Medidas legais para atribuir ao poluidor a ação de reduzir a emissão de
poluição sobre o sistema;
A
identificação da relação causa-efeito para reduzir impactos e atribuir ao
culpado as penas e as cobranças devidas;
A
necessidade de transferir para toda a sociedade o ônus de mitigação de grande
parte dos custos de avaliação e mitigação dos efeitos.
Características da contaminação:
A
combinação das características do meio físico, da biota e do tipo de
contaminação e da interdependência entre os meios e processos faz de cada
sistema uma realidade única que necessita muitas vezes de soluções combinadas
para a busca de sua sustentabilidade.
Portanto,
para melhor entender e buscar soluções é necessário conhecer cada um destes
componentes. Os condicionantes dos aqüíferos são os seguintes (Poluição, 2003):
(a)
Tipo de aqüífero: os aqüíferos freáticos ou não-confinados são mais vulneráveis
do que os confinados ou semi-confinados. Aqüíferos porosos são mais resistentes
dos que os fissurais, e entre estes os mais vulneráveis são os cársticos;
(b)
Profundidade do nível estático (espessura da zona de aeração): como esta zona
atua como um reator físico-químico e biológico, sua espessura tem papel
importante. Espessuras maiores permitirão maior tempo de filtragem, além do que
aumentarão o tempo de exposição do poluente aos agentes oxidantes e adsorventes
presentes na zona de aeração;
(c)
Permeabilidade da zona de aeração e do aqüífero: a permeabilidade da zona de
aeração é fundamental quando se pensa em poluição. Uma zona de aeração
impermeável ou pouco permeável é uma barreira à penetração de poluentes no
aqüífero. Aqüíferos extensos podem estar parcialmente recobertos por camadas
impermeáveis em algumas áreas, enquanto em outras acontece o inverso. Estas
áreas de maior permeabilidade atuam como zonas de recarga e têm uma importância
fundamental em seu gerenciamento. Por outro lado, a alta permeabilidade permite
uma rápida difusão da poluição. O avanço da mancha poluidora poderá ser
acelerado pela exploração do aqüífero, na medida que aumenta a velocidade do
fluxo subterrâneo em direção às áreas onde está havendo a retirada de água. No
caso de aqüíferos litorâneos, a super exploração poderá levar à ruptura do
frágil equilíbrio existente entre água doce e água salgada, produzindo o que se
convencionou chamar de intrusão de água salgada;
(d)
Componentes do solo e da contaminação: a lista de contaminantes da água
subterrânea é longa. Alguns ocorrem naturalmente em algumas áreas, como o
arsênico, o sal em grandes concentrações é um contaminante. A água subterrânea
tende a ser mais salina que a água superficial, mas não é necessariamente água
salgada. Outros contaminantes naturais são o sódio, boro, nitrato, súlfur,
magnésio e cálcio;
(e)
Teor de matéria orgânica existente sobre o solo: a matéria orgânica tem grande
capacidade de adsorver uma gama variada de metais pesados e moléculas
orgânicas. O plantio direto, que produz aumento da infiltração e percolação,
tem diminuído a quantidade de nitrato e sedimentos carregados para os cursos
d’água;
Recursos
Hídricos Prospecção Tecnológica
(f )
Tipo dos óxidos e minerais de argila existentes no solo: sabe-se que estes
compostos, por suas cargas químicas superficiais, têm grande capacidade de
reter uma série de elementos e compostos. Na contaminação de um solo por
nitrato, o manejo de fertilizantes, com adição de gesso ao solo, facilita a
reciclagem do nitrogênio pelos vegetais e a penetração do nitrato no solo é
menor. Da mesma forma, a mobilidade dos íons nitratos é muito dependente do
balanço de cargas. Solos com balanço positivo de cargas suportam mais nitrato;
(g)
Reações químicas e biológicas: um poluente após atingir o solo, poderá passar
por uma série de reações químicas, bioquímicas, fotoquímicas e inter-relações
físicas com os constituintes do solo antes de atingir a água subterrânea. Estas
reações poderão neutralizar, modificar ou retardar a ação poluente. Em muitas
situações, a biotransformação e a decomposição ambiental dos compostos
fitossanitários podem conduzir à formação de produtos com uma ação tóxica aguda
mais intensa ou, então, possuidores de efeitos injuriosos não caracterizados
nas moléculas precursoras. Exemplos: dimetoato, um organofosforado, degrada-se
em dimetoxon, cerca de 75 a 100 vezes mais tóxico. O malation produz, por
decomposição, o 0,0,0-trimetilfosforotioato, que apresenta uma ação direta
extremamente injuriosa no sistema nervoso central e nos pulmões, provocando
hipotermia e queda no ritmo respiratório;
(h) Os
processos que agem sobre os poluentes que atingem o solo podem ser agrupados
nas seguintes categorias: adsorção-desorção; ácido-base, solução-precipitação,
oxidação-redução, associação iônica (complexação), síntese celular microbiana,
decaimento radioativo.
A
poluição capaz de atingir as águas subterrâneas pode ter origem variada.
Considerando que os aqüíferos são corpos tridimensionais, em geral extensos e
profundos, diferentemente, portanto dos cursos d’água, a forma da fonte
poluidora tem importância fundamental nos estudos de impacto ambiental.
Avaliação da contaminação
O risco ou perigo da contaminação de um aqüífero tem sido baseado na
vulnerabilidade do aqüífero e na existência de carga potencialmente poluidora.
A vulnerabilidade é estabelecida pelas condições específicas do aqüífero, que
poderá ou não estar contaminado. Um aqüífero que tenha alta vulnerabilidade
deve ser preservado. Portanto, comparando com águas superficiais, a
vulnerabilidade de um aqüífero é um conceito contrário ao da capacidade de
absorção ou diluição de um rio.
Maíra Tamára Rêgo Mendes
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