O manuseio
de produtos tóxicos contaminantes sem a adoção de normas adequadas e a
ocorrência de acidentes ou vazamentos nos processos produtivos, de transporte
ou de armazenamento de matérias primas e produtos da indústria representam
sério risco ao meio ambiente e à saúde humana. A existência de uma área
contaminada pode causar restrições ao uso do solo e danos ao patrimônio público
e privado, com a desvalorização das propriedades.
Normalmente
os contaminantes produzidos pelas indústrias atingem os solos e rios, e
posteriormente, dependendo das condições de vulnerabilidade do aquífero (tipo
de solo, profundidade do nível de água, entre outros) podem atingir as águas
subterrâneas.
Levantamento
realizado pelo Ministério da Saúde e ainda revela que no país existem cerca de
15.000 áreas com contaminação em solo e/ou água e que aproximadamente 1,3
milhões de habitantes estão expostos diretamente nestas regiões. As atividades petroquímicas,
de extração mineral, siderúrgicas, fábricas e galpões de agrotóxicos estão
listados como principais causadores de contaminação.
O Pólo
Industrial de Camaçari, em operação desde 1978, é atualmente, o maior e o
mais importante complexo integrado da
América Latina. Abrange áreas dos municípios de
Camaçari, Dias D’Ávila e Simões Filho. Nele, estão instaladas indústrias
que atuam nos setores da petroquímica, química fina, metalurgia, celulose,
cervejaria, plásticos, fertilizantes, serviços, indústria automotiva e de
pesticidas.
Figura 1 : Pólo Petroquímico de Camaçari. Fonte : COFIC ,2012.
O Pólo está
localizado no divisor de águas das Bacias Hidrográficas dos rios Jacuípe e
Joanes, no topo dos sedimentos Formação São Sebastião, pertencente à Bacia
Sedimentar do Recôncavo. Ambos os rios fluem sobre os sedimentos da Formação
São Sebastião, que possui importantes sistemas aquíferos, estando estes e os
rios conectados hidraulicamente. As características geológicas da Bacia Sedimentar
do Recôncavo tornam os aquíferos locais altamente vulneráveis à contaminação,
exigindo, de qualquer atividade nesta região, medidas permanentes de proteção,
visando prevenir a contaminação do manancial de água subterrânea que abastece
muitas vilas e cidades, como também as indústrias locais.
Aquífero São Sebastião
Um sistema aquífero
é definido como sendo um sistema de armazenamento e escoamento de água
subterrânea, no qual os efeitos de impulsos se propagam, influenciando o
funcionamento do sistema, num período de tempo determinado. A caracterização
dos sistemas aquíferos tem importância fundamental no estudo de impacto ambiental, requerendo uma abordagem sistêmica
adequada. Constituem-se entradas: as recargas naturais do aquífero, como as
chuvas, ou artificiais, como a recarga induzida por bombeamento, a infiltração
de águas poluídas e os vazamentos de redes de esgotos. Já as saídas podem ser:
naturais, como a recarga de base dos rios e as perdas por evapotranspiração, ou
artificiais, como os volumes extraídos de poços e outras obras de captação.
O sistema aquífero
São Sebastião pertence à Bacia Sedimentar do Recôncavo. Possui uma área de
recarga de 6.783 km que corresponde à porção sudeste do Estado da Bahia. A
cidade de Salvador tem parcela importante de seu abastecimento dependente do aquífero
São Sebastião, bem como a cidade de
Camaçari, onde o manancial também apresenta uso industrial. A qualidade química das águas do São Sebastião
é boa, com sólidos totais dissolvidos menores que 500 mg/L .A importância dos
sistemas aquíferos São Sebastião é demonstrável
através dos seus múltiplos usos: no abastecimento público integral das
cidades de Camaçari, Dias D’Ávila,
Pojuca, São Sebastião do Passé, Mata de São João, Catu, Alagoinhas, e inúmeros povoados; no suprimento da indústria
petroquímica, de metalurgia, automotiva e de
bebidas; e nas termoelétricas para a geração de energia. Avaliando a
evolução do quadro ambiental na região de Camaçari, a água subterrânea limpa e
a água de superfície, associada a essa, são como sangue da vida das comunidades urbanas, dos
povoados em geral, e também das indústrias, e
a proteção da água subterrânea não pode ter importância menor do que a
dedicada a outros sistemas públicos como
os de transportes ou de energia elétrica.
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Figura 2: Bacia Hidrográfica da região do Pólo Petroquímico de Camaçari . Fonte : João Severiano Caldas.Dissertação de Mestrado ,2005. |
O sistema aquífero
São Sebastião tem espessura com água doce da ordem de 1.000m. A reserva
permanente corresponde à quantidade de água do aquífero em seu estado natural, conforme
suas características geológicas e fisiográficas.
O Plano
Diretor do COPEC, elaborado em 1974, identificou uma série de problemas ambientais
já vigentes na RMS- Região Metropolitana de Salvador, os quais poderiam trazer impactos sobre os recursos
hídricos superficiais e subterrâneos: entre eles: as deficiências de
esgotamento de efluentes urbanos e industriais na área onde o Pólo seria implantado;
e os despejos das indústrias já ali localizadas, lançados sem tratamento no
sistema hídrico da região.
O CEPRAM-
Conselho Estadual de Proteção Ambiental- condicionou através da Resolução
N°218/1989 que, as águas dos aquíferos subjacentes ao Pólo Industrial de
Camaçari fossem avaliadas sistematicamente, o que vem ocorrendo desde 1992, de
acordo com planos de monitoramento elaborados anualmente como parte do Programa
de Gerenciamento da Água Subterrânea - PGAS.
Associado ao
monitoramento da qualidade da água subterrânea, realizado em cada empresa pelo PGAS, ações próprias são desenvolvidas
pelas empresas no âmbito interno das suas
áreas, visando à proteção da água subterrânea: prevenindo, identificando
e eliminando pontos de emissões de
poluentes para o solo e procedendo a recuperação ambiental do local impactado.
Os
resultados gerados pelo PGAS, nos seus primeiros cinco anos de atuação,
indicaram já ter sido este programa
capaz de identificar e eliminar a maioria das fontes de perdas causadoras de contaminação das águas subterrâneas na
área do Pólo, como também identificar unidades industriais com fontes
secundárias de contaminação baseadas nos resultados analíticos do monitoramento periódico e no delineamento
deplumas de migração de contaminantes dissolvidos
nas águas subterrâneas. Ações de intervenção na extração de água vinham sendo também
tomadas em determinadas posições geográficas do aquífero. Um exemplo foi a interrupção
da operação de poços profundos localizados em áreas impactadas, como medida para
prevenir a indução de contaminantes para formações aquíferas mais profundas.
Os riscos de
deterioração da qualidade da água subterrânea
pela poluição das indústrias que se instalaram na área decorriam, em grande
parte, da forma desordenada e
improvisada das explorações do manancial subterrâneo. Por essa época, a contaminação industrial das águas
subterrâneas já havia sido registrada nas regiões mais desenvolvidas do mundo e preocupava as
autoridades, devido a seus efeitos sobre a
saúde pública, o meio ambiente e a economia. As técnicas de impermeabilização adotadas à
época, nas áreas de tratamento e disposição de resíduos sólidos perigosos,
retardavam a percolação de contaminantes, porém não ofereciam proteção duradoura.
Estudos apontaram
que a contaminação do subsolo, resultante desse procedimento, poderia ser
lenta, porém seria significativa, caso não fossem adotadas medidas rígidas de
controle e mudanças de procedimento no gerenciamento da proteção ambiental. Por não existirem dados de monitoramento que
pudessem mostrar o grau de comprometimento do aquífero pela poluição, não havia
como quantificar o problema. Entretanto, dados isolados apontaram níveis elevados
de concentração de poluentes, indicando que alguma pluma de poluição já vinha
se desenvolvendo a jusante da área do Pólo.
Legislação para gestão dos recursos
hídricos no Pólo
Os diplomas
legais específicos aplicáveis à gestão dos recursos hídricos subterrâneos na
área do Pólo são as Resoluções do CEPRAM
de N°218/89, 620/92, 2113/99 e 2878/2001, as quais exigem que todas as empresas do Pólo
participem do Programa de Gerenciamento das Águas Subterrâneas.
O programa de gerenciamento das águas
subterrâneas no Pólo de 1992 a 2003
As empresas,
sob coordenação técnica da CETREL, conduzem o programa integrado de monitoramento, abrangendo todas as áreas sob
influência do Pólo. A sistemática de abordagem foca ações preventivas e também
abrange impactos ambientais originados
do processo industrial. O PGAS visa fortemente a implementação de
mecanismos adequados para manter
sustentável o uso das águas subterrâneas. Estes mecanismos de proteção das águas
subterrâneas da região foram estabelecidos com base na avaliação dos riscos de contaminação,
levando-se em consideração os seguintes vetores
potenciais: estocagem e movimentação de produtos químicos tóxicos nos
processos industriais; descarte e
disposição de resíduos industriais; emissões de poluentes gasosos na atmosfera; e poços de bombeamento na área do
Pólo.
Os principais objetivos do PGAS são:
-
Identificação e eliminação de fontes primárias e secundárias de
contaminação;
-
Otimização e racionalização do suprimento de água subterrânea;
-
Desenvolvimento de tecnologias de remediação do solo e água subterrânea.
Alguns dos resultados incluem: eliminação da maioria das fontes primárias de
contaminação; avaliação das fontes secundárias
baseadas no comportamento das plumas de contaminação; início da
remediação de algumas áreas impactadas;
e interrupção do funcionamento de poços de bombeamento na região do Pólo para prevenir a contaminação de
formações aqüíferas mais profundas.
Uma relação detalhada de ações
realizadas pelo PGAS inclui:
-
Monitoramento periódico da qualidade e dos níveis de 524 poços,
incluindo os de monitoramento,
bombeamento e de remediação;
-
Avaliação de compostos orgânicos voláteis e semi-voláteis, e de metais
pesados; controle da qualidade através
de verificações periódicas interlaboratoriais; e, banco de dados para armazenamento dos resultados das
análises químicas;
-
Monitoramento da qualidade da descarga da água subterrânea no rio
Imbassaí, a jusante da área do Pólo;
-
Caracterização da litoestratigrafia da área onde se concentram as
indústrias;
-
Relatórios e suporte às empresas, objetivando a identificação e eliminação
de fontes
potenciais de contaminação;
-
Suspensão do funcionamento de 18 poços profundos de produção localizados
em áreas impactadas, visando à eliminação de
potenciais vetores de contaminação do aquífero profundo;
-
Instalação da barreira hidráulica, sistema de remediação por bombeamento
das águas,
a jusante do
Pólo, consistindo de 13 poços de extração.
Essas ações
contribuíram para os seguintes resultados serem alcançados:
-
Delineamento da pluma de compostos orgânicos e metais pesados; e
acompanhamento da progressão do fluxo
subterrâneo;
-
Recuperação parcial dos níveis estáticos na área onde ocorreu a
suspensão do funcionamento dos poços;
-
Extração de compostos orgânicos dissolvidos na água;
-
Eliminação / redução das fontes primárias de contaminação do solo.
Conclusão
Para a proteção da água subterrânea ser
efetiva, há muitas coisas, ainda, a serem feitas. Um desafio a ser
estabelecido e implementado, é coordenar
e integrar esforços, de diversas partes interessadas, com a finalidade proteger o solo nas zonas aquíferas
vulneráveis durante sua ocupação e uso. Algumas
recomendações são no sentido de aumentar o intercâmbio técnico-institucional
entre os usuários da água e demais partes interessadas (empresas, governo, ONGs
e outros), de disseminar práticas de proteção da água subterrânea e de
estruturar, no âmbito das ações comuns
do Pólo, o gerenciamento permanente dos recursos hídricos da região.
Fonte:
João Severiano Caldas .Dissertação de Mestrado . 2005
Panorama da Qualidade das Águas Subterrâneas no Brasil . ANA- Agencia Nacional das Águas
Isto é um Crime, que nossas Autoridades precisam agir com rapidez e maior rigor evitado que estes criminosos destruam todo Sistema Aquífero de são Sebastião.
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